segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Medo de escolher ou mudar

A escolha de uma profissão, trabalho ou emprego representa um passo de grande importância e impacto na vida da maioria das pessoas. É natural que exista o receio ou mesmo medo de tomar um caminho que futuramente possa se mostrar errado.
A precaução vem da consciência de que nosso futuro é formado pelo conjunto de escolhas que realizamos ao longo do tempo. Uma simples ação hoje pode afetar em maior ou menor grau nossa vida. A partir do momento em que não temos controle do ambiente externo ou mesmo certeza das próprias necessidades e desejos, o ato de decidir abre portas para um caminho nebuloso e de risco.
Apesar dessa realidade, o mundo ao redor não para e, muitas vezes, nos exige posicionamento, mesmo quando não nos sentimos prontos. A primeira decisão profissional é um dos momentos em que mais confrontamos a dificuldade da escolha.
Quantas vezes não ouvimos ou mesmo proferimos comentários como: "É injusto e cruel ver um adolescente, praticamente uma criança, determinar algo tão definitivo como uma profissão." ou mesmo um adulto lamentando : "Como eu poderia saber que não iria gostar da minha carreira. Agora é tarde, não tenho como voltar atrás".
Realmente, optar por uma profissão extrapola o simples "x" assinalado no formulário de vestibular. Da mesma forma, mudar uma carreira não se limita ao simples desejo pelo novo. Apesar de aparentemente diferentes, os dois momentos têm pontos em comum. Denunciam a maneira como fomos ensinados a decidir e lidar com as conseqüências.
De forma implícita, nossa cultura expressa a idéia de que só adultos têm responsabilidades, assumem decisões importantes e de impacto. Estudar, passar de ano, não utilizar drogas, permanecer comportado em sala de aula, prestar atenção ao professor ou respeitar os colegas são algumas escolhas presentes no universo infantil e adolescente que somam um enorme impacto no futuro. Entretanto, várias gerações erram ao desconsiderá-las. Interpretam a ação do jovem como mera obrigação ou, o que é pior, como mérito próprio, adotando o papel de bom educador e dificultando a construção da autoconfiança desse futuro adulto.
A importância de exercitar o processo decisório está em experimentar as etapas que levam à escolha, entender as conseqüências, tolerar a incerteza dos resultados e, principalmente, aprender a corrigir passos equivocados. Isso pode ser ensinado no dia-a-dia, em situações aparentemente irrelevantes que, quando realizadas com consciência, trazem ganhos de maturidade pessoal e, consequentemente, profissional.
Numa sociedade ávida por eliminar o fracasso, o grande foco de atenção educacional concentra-se em ensinar a evitar erros e problemas. Esquecemos que, por melhor que seja a preparação que antecede uma escolha, existirá sempre uma porcentagem de incerteza. Na carreira, em especial, os resultados das decisões só se revelam no momento da prática.
Através do processo de orientação profissional, também conhecido como orientação vocacional, tanto o jovem como o adulto encontram apoio para organizar e equacionar as variáveis que compõem uma decisão madura. Além disso, a orientação tem o papel de desmistificar a idéia que a escolha termina no momento de sua definição.
Ao contrário, o ato de decidir resume-se apenas ao ponto de partida. Implementar a decisão, monitorar os resultados e corrigir a rota são aspectos inerentes que dão continuidade ao processo. A escolha consiste apenas no primeiro dos muitos passos rumo a um projeto profissional que está sendo construído.
Com receio de enfrentar barreiras e dificuldades, o momento de decidir ou mudar de carreira pode gerar medo, vergonha, vazio, sensação de esgotamento em função da fantasia de estar voltando ao marco inicial. Quando estamos presos a esses sentimentos, esquecemos que as experiências de vida são, invariavelmente, acumuláveis. O caminho, por mais que pareça ser totalmente novo, é evolutivo. Aprender com a prática significa somar informações e experiências.
Reconhecer que uma escolha no passado não foi adequada ou já não serve para o momento de vida atual, é desconfortável, porém faz parte do processo de amadurecimento. Da mesma forma, optar por uma profissão pela primeira vez, é um passo importante sim, mas que pode ser visto sob a perspectiva de que também será constantemente revisto e corrigido.
Isso não significa que seja válido agir de forma impulsiva ou inconseqüente. É preciso aprender a refletir, rever e corrigir rumos de forma planejada, cautelosa, considerando limites, obstáculos, aproveitando a experiência prévia e as oportunidades do momento.
A habilidade para cumprir essa tarefa não é intuitiva. Existem técnicas que auxiliam nessa busca. A orientação profissional cumpre esse objetivo e realiza esse acompanhamento em ambiente seguro, respeitando o ritmo individual, porém instigando constantemente o indivíduo a buscar seu caminho.
Ter a coragem de arriscar-se implica em aprender a caminhar e a lidar com os próprios medos. Exige paciência, em direção ao desenvolvimento de uma carreira sólida, que seja fonte de satisfação e de realização. Este é, sem dúvida, um grande desafio.

Anaí Auada

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